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As cadeiras vazias: Luto e Natal

Sabemos que tanto 2020 como em 2021, muitos de nós perdemos pessoas especiais em nossa história. Falo tanto de nossos familiares, pessoas amigas, como personalidades que contribuíram com nossos dias.

A vivência do luto por si mesma, já é algo custoso e devo dizer que será bem difícil conviver com algumas cadeiras vazias à mesa durante a ceia e o almoço de Natal. Mas sem dúvidas, algumas palavras que nos serão dirigidas vão doer e muito.

Desgraçadamente as ausências neste ano, são numerosas. Na minha rua mesmo, apenas 2 ou 3 casas, não perderam ninguém. Meus amigos todos, e na Família também. A sua realidade não deve ser muito diferente, se não perdeu alguém da sua casa, alguém que você convive diariamente, passa por isso.

Essa semana foi e segue sendo difícil, a cadeira vazia aqui é a da minha Mãe.

Minha Mãe hoje trabalharia até as 13h, depois iríamos almoçar em algum restaurante, pois estaria certamente envolvida com diversos projetos de Natal e nas celebrações(vigília e Natal), que muitas vezes, servimos juntas. Esse ano, sem dúvidas ela estaria no coral. Ela amava as canções natalinas.  

Teria comprado presentes para todos aqueles que amava. E estaria um pouco triste com  a ausência de seus irmãos que partiram ainda crianças(próximo ao Natal) e da minha Avó, sua mãe. Mas feliz, por estamos todos em casa(eu, meu Pai e Irmão). A regra era, eu estar em casa no Natal!

Confesso que não tenho o ânimo da vivência do Natal. Nem mesmo os enfeites tradicionais deste período, foram tirados da caixa, e não aceitei os convites para as confraternizações que ia sempre. É difícil pensar na Esperança que ‘nasce’ com o Deus menino, quando se lamenta ainda o retorno de alguém para a Morada Eterna(ainda que esse seja outro tipo de esperança).

Sei que muitos estão passando pelo mesmo e podem compreender. Assim como sei que para muitos, essas palavras podem soar como insignificantes ou mesmo bobeira.

Vocês me veem sorrindo em algumas fotos e devem pensar que está tudo bem. Mas não é exatamente isso. Esse processo é muito intenso. Passamos por momentos de mais tranquilidade e outros momentos de total negação ou questionamento do fato. No momento do registro fotográfico, pode ser que esteja relativamente bem, mas pode ser que seja apenas um mecanismo de defesa, para não responder a pior das perguntas nestes últimos meses “tudo bem?”.

Não perguntem para quem está nesse processo de Luto, se está ‘tudo bem?’. Você sabe que não está e que não vai estar por muito tempo! Essa perguntinha automática, faz um estrago que você não tem noção. Seja criativo e comece a conversa com algo positivo ou aleatório, como ‘Oi, gostei da sua camisa/vestido/batom… ou diga apenas Oi’. Não comente sobre o corpo, cabelo, aparência do outro(é bem desnecessário sempre). Exemplo: A pessoa pode estar bem abaixo ou acima do peso, dado ao sofrimento que está passando e suas palavras podem piorar o estado da pessoa enlutada;

Outra coisa não force a pessoa a falar nada com você, mesmo que você tenha intimidade com ela. Se a pessoa for como eu, ela prefere resolver tudo internamente ou com a ajuda de um profissional.

Mas voltando a falar sobre a Esperança. O Natal é visto como esse período de renovar nossa esperança com a chegada do menino Deus. Mesmo que as nossas perspectivas seja as piores possíveis, principalmente para nós brasileiros. É bonito pensar que neste momento todos vão parar um pouco e pensar que um tempo melhor está para chegar e que temos a oportunidade de ser pessoas melhores. Também lembro aqui da esperança da eternidade, que nós cristãos acreditamos e aqui voltamos ao luto. Pode ser meio irônico pensar que deveríamos estar felizes com a partida daqueles que amamos, dado essa nossa cresça. Mas é difícil, conviver com a ausência súbita de quem amamos. (A verdade é que nunca estamos e nem queremos estar preparados para este momento).

O fato é que não existe um roteiro a seguir para que possamos passar esses dias sem aquelas pessoas especiais para nós. Como foi dito, em muitos lares, teremos cadeiras vazias e só posso dizer que vamos passar por estes dias. Como? Cada um terá uma resposta única e mais adequada a sua realidade. Penso que não será algo racional, mas sim carregada de emoções intensas. Dias ruins passam, assim como os dias bons. E assim a vida segue.

Dito isso, me despeço e desejo que você e sua Família tenham a melhor vivência possível do Natal! Com as bençãos e forças necessárias para seguir!

Que o Deus menino, ilumine nosso país e nossos futuros governantes, disso depende a vida de nós todos!

In resurrectione tua Christe, coeli et terra laetentu

Alegrem-se os céus e exulte a terra: Ressuscitou Jesus Cristo!

Hoje é um dia de grande alegria para nós cristãos, dia da Ressurreição de Jesus, dia em que ele cumpriu a sua promessa. Não se trata de um simples recordar, e sim de acreditar e realmente sentir a Verdade que celebramos todos os domingos.

Confesso que meu sentimento está um pouco confuso, dado a significância deste momento na Igreja e Fé professo e tudo que se passa em nossa volta. Lembro que li em algum lugar, que tal situação nos fez perceber enquanto humanidade, o quão frágil é nossa vida, que mesmo as grandes potências econômicas, e seus líderes não estão livres, não existe super herói e infelizmente este não é ‘apenas’ um sonho ruim.  

Trago aqui um fragmento da fala do Papa Francisco, durante a bênção Urbi et Orbi, disse ele: “Para muitos, é uma Páscoa de solidão, vivida entre lutos e tantos incômodos que a pandemia está causando, desde os sofrimentos físicos até aos problemas econômicos.” Essas palavras me são muito pesadas. Dentre os piores sentimentos que experimentei, com toda certeza, o pior de todos é o de ‘impotência’. Gostaria muito de ter o ‘poder’ de parar o tempo e dar uma de ‘carpinteiro do universo’. Afinal, sou realmente mais uma dessas pessoas estranhas que nasceu com a mania de achar que pode e deve colaborar para que o mundo seja um lugar melhor para mais pessoas. É horrível, não poder fazer nada, nem mesmo por si, quem dirá por seus família, amigos e pelo mundo tudo.

Confesso não é raro as lágrimas virem aos olhos todas as noites/madrugadas quando busco atualizar-me sobre o número de mortes pela COVID-19. Ainda que eu não tivesse nenhuma pessoa próxima, amigos e seus familiares, diretamente afetados, sejam doentes ou nos cuidados destes, ao redor do mundo, meu sentimento seria o mesmo. É muito difícil não pensar que cada uma dessas pessoas que perdeu sua vida, era amada por alguém, era ‘o amor da vida’. Alguém que ficará convivendo com a sua ausência. E que possivelmente não teve a oportunidade de dizer ‘tchau’, adequadamente. Sempre é custoso/complexo nos despedir de quem amamos, em geral, não somos preparados para este momento e quanto mais se ele chega assim, de forma tão tirana.

O período quaresmal trouxe-me muitas coisas, depois chegou a Semana Santa e realmente ela envolveu-me, em um verdadeiro e profundo retiro. Como há muitos anos não tinha a oportunidade de confrontar-me tanto. E hoje cá estamos na celebração da Ressurreição, com a Esperança renovada, cheia de sonhos, ainda que não saiba para onde correr há a certeza que as coisas vão dar certo, que boas notícias logo vão chegar.

Por fim, acredito que esta seja maior mensagem para nós neste domingo da Ressurreição, a Esperança. Esperança que este momento de ‘escuridão’ vai passar e vamos aprender as lições que ele veio nos trazer.

Feliz Páscoa!

In resurrectione tua Christe, coeli et terra laetentu